Penso que não é só comigo que acontece, mas em momentos, meus pensamentos voltam-se muito ao passado e, felizmente, recordo muito mais dos bons tempos e a saudade envolve pessoas, fatos e a vida tranquila que superava algumas adversidades em rápida e favorável solução. Éramos mais pacíficos, ou os problemas, às vezes, enormes, com calma, transformados em pequenos? Estaria eu minimizando dificuldades? Acho e/ou tenho certeza de que não! Será que esqueci da diferença de idade entre o ontem e o hoje? Não, isso não, pois isso é impossível apagar da mente. E, sendo assim, lá vou eu a um pouco do passado, vivido por aqui e por aí!
Morávamos, entre meus três e quatro anos, no Rio de Janeiro, antes disso, mas não lembro quase nada, aqui em nossa terra natal, no coração do Rio Grande do Sul. Quando, para nós eclodiu - ela já acontecia desde 1939 na Europa - à Segunda Grande Guerra em 1944 meu pai, o sargento Gil Alves, que servia o Exército no Rio de Janeiro, foi convocado para embarcar para a Itália e, óbvio, participar desse "desastre" humano.
Primeira providência, trazer minha mãe, Maria de Lourdes (grávida), eu e minha irmã Bijú para nossa terra Natal, no Coração do Rio Grande do Sul. Já com cinco anos, entendendo um pouco mais de algumas pequenas coisas e bem cuidados pelos nossos avós, tios, tias, primos e primas, não falávamos da situação adversa pela qual o Mundo passava, mas sabíamos, dos perigos pelos quais poderíamos passar e de que às 21 horas haveria "blecaute" total e que nada de iluminação era permitido.
Melhor dormir, ou tentar dormir. Notícias muito poucas, além de que a "luta" continuava. Mas, um dia, a melhor e maior notícia mundial: Terminou à guerra! Nosso pai voltou, Graças a Deus, sendo recebido com muita festa, inclusive, festejando muito mais, pois havia nascido o filho Levi que ele não conhecia. Assim, da mesma maneira que havia nos trazido para cá, ou seja, durante quatro dias e quatro noites, de trem, com algumas trocas (baldeações) de companhias ferroviárias, tais como, Rede Ferroviária do Rio Grande do Sul, até Marcelino Ramos, dali para frente à Santa Catarina, Paraná, até Ponta Grossa. Dali até São Paulo, a Alto Sorocabana e da capital paulista até à capital da República de ontem pela Central do Brasil, retornamos ao Rio de Janeiro.
Por algum tempo, já contando com mais um gaúcho na família, voltamos a viver na Tijuca, próximo ao Riacho Maracanã, onde hoje é o Estádio Mário Filho, mais conhecido por Maracanã! Depois de algum por lá, nosso saudoso foi transferido para Cacheira do Sul, mais tarde de volta para nossa Santa Maria, onde meus pais e Deus, nos deram mais uma irmã, a Leize.
Uma pequena observação, sem reclamar, um mínimo que seja! Não posso deixar de revelar que ali onde nasci, antes chamada de "Passo da Cancela" fica, hoje, na Helvio Basso, esquina com, ontem, o Beco do Hur hoje,Rua Carlos Hur. Já localizei e passemos ao que quero revelar. Meu avô, conhecido como coronel Pândico que sempre chamou aquela propriedade de Chácara, morava ali com à família onde haviam árvores de diversos tipos de frutas e para fazer sombra, água de Poço e um "potreiro" com muitas vacas e alguns poucos Cavalos. E o principal negócio era, como assim chamavam, uma leiteria. Nada de loteria, leiteria mesmo. Os cavalos, para montaria e distribuição do leite. Então, leite tínhamos. Mas não somente para nós. Não havia, durante um bom tempo, café e tampouco açúcar. "Superavam" essa falta, tomando leite com chá de erva mate e adoçado com rapadura ralada. E ninguém reclamava!
Hoje, será que minha indagação para finalizar é muito forte: mundo piorou ou nós estamos muito exigentes? Um abraço a todos!
Texto: Bira Alves
Jornalista